Vampiros, Espíritos e Lobisomens...
Antes de mais, gostaria de agradecer à editora Chiado por me ter gentilmente cedido um exemplar de Vampiros do Norte, de João Carlos Pinto, para leitura e crítica aqui no blogue.
A nossa história começa com a apresentação de Trigo Roxo, mais commumente chamado TR, inspetor da PJ portuguesa, considerado o mais temido em todo o mundo. Consta que só de saber que Trigo Roxo está ao seu encalço, os criminosos se entregavam às autoridades com vista a reduzir as suas penas, uma vez que iriam acabar presos de qualquer maneira.
Logo a seguir, é-nos narrada, por TR, a conversa com o seu chefe que levou a todas as peripécias desta história. Algures no Norte de Portugal um assassino em série está em ação: mata as suas vítimas fingindo-se de vampiro, deixando-as sem uma pinga de sangue. O chefe parece não dar o devido valor ao seu inspector mais valioso, chegando ao ponto de lhe dizer que está destacado para o caso porque todos os seus colegas competentes já estão ocupados.
Este inspetor, após se despedir da sua família, parte imediatamente para o Norte do país para investigar o caso e trazer o assassino à justiça. Falando com os locais, descobre que o suspeito se dá pelo nome de V e que até certa idade, foi uma pessoa normal como todas as outras, mudando-se depois para um castelo remoto da sua família.
Agora, V está a monte, rumo a França, para representar a comunidade vampírica portuguesa num Congresso destinado a vampiros. Como seria de esperar, Trigo Roxo, segue as pistas deixadas por este criminoso até esse congresso, disfarçando-se de vampiro para poder entrar sem ser descoberto. Aí, encontra algo que faz mudar completamente o rumo desta investigação.
Ao longo de toda a narrativa, são-nos apresentados episódios de investigações passadas deste inspetor, desde operações no vaticano, a pedido do Papa, a missões na Rússia, a pedido do presidente deste país.
Devo dizer que este livro me surpreendeu pela positiva, nas primeiras páginas, estava quase para desistir da leitura, achava que se tratava apenas de uma sequência de episódios absurdos e sem qualquer nexo. Ora, não é bem assim.
Todo o livro é uma sátira repleta de criticas sociais e políticas. Por vezes achei as alegorias demasiado exageradas e nem sempre consegui apreender a mensagem lá contida. Claro que houve episódios que me levaram a pensar imediatamente em certos acontecimentos reais, mas outros... Posso ser eu a simplesmente não conseguir associar eventos concretos aos retratados no livro, mas, na minha opinião, alguns eram deveras rebuscados.
Assim, tive dois tipos de reações aos diversos episódios: uma, em que compreendia a mensagem das entrelinhas e o paralelismo entre a ação narrada e a atualidade; e outra, em que não fiz qualquer associação com a realidade e achei os eventos simplesmente absurdos.
Como disse, a história é narrada pela personagem principal, Trigo Roxo, tratando-se de um discurso leve e quase de conversação. Sentimos que TR está a contar-nos histórias da vida dele, como se fossemos velhos amigos. Apesar de isto dar um caráter descontraído ao livro, faz com que se percam muitos pormenores, não há descrições que nos façam sentir que estamos no locais de ação com as personagens.
Algo que me causou alguma confusão, foi o facto de as personagens serem tratadas pelas iniciais. Após uma primeira apresentação, deixávamos de ver os nomes para ver só, como no caso de Winston Churchill (sim, é uma personagem desta narrativa), WC. Inicialmente gostei desta abordagem, mas depois de tantas personagens, perdi um pouco o fio à meada, como se costuma dizer, e não conseguia acompanhar quem era quem...
Quanto ao estilo de escrita, todo o livro estava eximiamente escrito em termos ortográficos e sintáticos, mas a escrita precisava de ser limada e aperfeiçoada. A ação é muito rápida, passamos de um momento de vida ou de morte ou de uma tomada de decisão vital para uma atitude calma e relaxada por parte das personagens. Senti que tudo estava apressado. Até mesmo as narrativas secundárias, na minha opinião, deviam ser menos e mais alongadas e pormenorizadas.
Para terminar, apenas uma pequena nota: o livro tem imenso potencial, mas peca pelo exagero, apresso, estilo de escrita e descuido de pormenores importantes. No entanto, vejo esta obra como um possível sucesso caso sejam aperfeiçoadas certas vertentes.