sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Antes do futuro

Ondas de Mudança


Todos sabemos que viagens no tempo têm sido alvo de imensa ficção nos últimos tempos, desde palavras no papel até ao grande ecrã. E se fosse possível ver o nosso futuro a partir do que partilhamos no facebook? É com isto que Emma e Josh se deparam, uma autentica janela para o futuro. Conseguirão dois jovens de 15 anos lidar com o que descobrem?

Tudo começa quando o pai de Emma lhe oferece um computador, mas não se deixem enganar, não é portátil, é, sim, um computador fixo, provavelmente gigantesco. Não nos podemos esquecer, estamos em 1996, a internet é algo relativamente novo e nunca ninguem ouviu falar de algo tão absurdo como o “Facebook”.

Sabendo que Emma tem um computador novo, Josh, o seu melhor amigo desde sempre e também o seu vizinho do lado, oferece-lhe um CD-ROM com 100 horas de internet incluidas. Apesar de se conhecerem desde crianças, Emma e Josh estão a passar por um momento complicado na sua relação, não estando tão próximos quanto costumavam ser.

Ao instalar o CD-ROM, os dois jovens encontram uma estranha página chamada Facebook. Estão na conta de Emma, embora esta não se lembre de alguma vez ter ouvido falar de tal página, quanto mais ter conta criada! No entanto, a Emma das fotografias do Facebook parece diferente, mais velha. E as datas? De quinze anos mais tarde. Só podia ser uma partida, alguém muito engenhoso estava a tentar enganá-los. 

Com o tempo, vieram a perceber que aquela página era realmente do futuro, todos os dias o Eu mais velho de Emma publicava frases acerca da sua vida. Não era apenas um vislumbre do futuro, era a possibilidade de o alterar, cada pequeno ato ou decisão poderia alterar o que Emma publicava consoante o estado da sua vida no momento em que o fazia. Serão capazes estes dois adolescentes de criar um futuro que lhes pareça favorável? Será que as vidas com que sempre sonharam são as que, 15 anos mais tarde, os farão felizes? 

Antes de mais nada, é de realçar o quão este tema do "olhar para o futuro", tão banal atualmente, foi transformado em algo nunca antes visto. Jay Asher e Carolyn Mackler pegaram em coisas banais do atual e antigo quotidiano e conseguiram criar um enredo original. 

Falando no antigo quotidiano, este livro leva-nos até 1996, um tempo em que a internet era novidade, os telemóveis raros, o telefone fixo a principal forma de comunicação tecnológica e o modo de vida extremamente diferente. Os adolescentes não passam horas nas redes sociais, passam-nas antes com os seus amigos ou a fazer desporto. Os autores retrataram isso muito bem, no entanto, gostava der ter acesso a uma imagem mais clara desse quotidiano. Sydney Mills tem um telemóvel, o primeiro pensamento que me vem à cabeça é de que é um "Flip phone", mas provavelmente não é, será um calhamaço enorme com uma antena ainda maior.


Mais uma vez, achei que faltava, não uma descrição física das personagens, mas alguma profundidade nessa mesma descrição. Era-nos dito que certa pessoa é bonita, “giríssima” até, com cabelo a cair pelos ombros, mas nada que me fizesse ter uma imagem mental da personagem, ou pelo menos alguém em quem a visualizar. Eram apenas descrições vagas. Claro que podemos afirmar que é para dar a ideia de que isto se passa com adolescentes normais como qualquer um de nós já foi, mas, para mim, simplesmente não funcionou. 

O estilo de escrita é simples e bastante acessível, como se fosse escrito de um adolescente para um adolescente. Claro, é um estilo agradável para todas as idades, mas é informal o suficiente para captar a atenção dos mais novos. A narrativa é contada alternadamente do ponto de vista de Emma e Josh, sendo a mudança de  perspectiva feita de capítulo para capitulo. 

Essas mudanças de narrador são feitas com uma precisão metódica, quando se dá um acontecimento marcante para a Josh ou Emma, termina o capitulo e começa um novo sob os olhos do mais afetado, permitindo-nos aceder ao parecer dessa personagem em primeira mão.

Por fim, apesar de não ter sido um livro que me obrigasse constantemente a passar a página, foi uma leitura interessante. Não me cativou especialmente ao ponto de o devorar, mas é uma leitura leve, ideal para passar um bom bocado na companhia de um livro.