Lá no meio da serra...
Primeiramente, quero agradecer à editora Capital Books por me ter cedido um exemplar de O Artesão, de Carla Antunes, em formato digital.
Este livro é extremamente recente, tendo sido publicado em março deste ano. A autora, Carla Antunes, trabalha na área financeira, mas a escrita sempre a acompanhou, primeiro apenas como um hobbie.
Em O Artesão deparamo-nos com um cenário nosso conhecido, a Serra da Estrela, e, com ela, todas as personagens de uma modesta vila tipicamente portuguesa.
As personagens, ao contrário do que poderíamos pensar, são jovens, cheias de vida e devaneios. Com exceção de Nina, que vive no Covão, numa casa separada da aldeia. Esta rapariga tem quase como missão pessoal tratar do seu tio Samuel, ou Sam, como lhe chamam.
Nina foi largada à porta da igreja quando nasceu e, aos sete anos, Sam foi buscá-la. Apesar de este ter sempre sido austero, Nina acredita que lhe deve muito, tratando dele com a dedicação que apenas uma filha poderia demonstrar.
O grupo de amigos de Nina inclui Simão, o seu ex-namorado com quem teve um abruto fim de relação, Nela e André, irmãos de Simão, Victor, Jorge e Tó. Todos eles ligados por uma tragédia do passado.
A vida pacata de Nina é abalada quando um rapaz misterioso retira uma peça do relógio da igreja que ela devia consertar e lha entrega. Não entendendo o gesto, a rapariga prossegue com a sua vida.
Mas tudo muda quando, numa noite de tempestade, Nina cai de um penhasco. Quase morta, é acolhida por uma família de pastores que vivia isolada da restante população. A sua recuperação foi longa e, quando acorda, percebe que não poderá regressar a casa, uma vez que o inverno está a chegar e a neve impedirá todas as suas chances de avisar os seus amigos, a sua família, de que se encontra bem.
Algo desperta nela quando reconhece um dos pastores. Aquele rapaz não para de assombrar os seus pensamentos. Porque o encontra agora? Quem é ele? Porque estava na vila e porque lhe deu a peça do relógio? Peça essa que desapareceu da sua posse...
Agora, Nina vê-se presa, por um lado, sem qualquer chance de voltar a casa e, por outro, mais livre do que nunca, afastada das responsabilidades e dramas da sua vida quotidiana.
Devo dizer, em primeiro lugar, que gostei imenso do livro. Ler algo de autoria portuguesa é sempre uma razão de orgulho. Existem escritores talentosos no nosso país, embora poucos sejam reconhecidos e tenham as oportunidades de singrar na carreira.

Relativamente à história, confesso que nas primeiras páginas não fiquei convencida. Foi apenas no momento em que o misterioso rapaz deu a peça do relógio a nina que fiquei realmente interessada. A partir desse momento a ação está repleta de movimento, com um enredo fascinante.
As reviravoltas foram imensas, no entanto, não detetei qualquer cliché. A história foi sempre original, contendo alguns pormenores que poderiam tornar-se o tal cliché que referi se trabalhados de outra forma. Carla Antunes teve a capacidade de pegar nas pequenas coisas do quotidiano e tratá-las de maneira a que se tornassem interessantes e cativantes.
O final não foi inesperado, foi exatamente aquilo que eu, como leitora, achava que as personagens mereciam. O inesperado foi mesmo o caminho que tiveram de seguir, as dificuldades que tiveram de enfrentar para lá chegar.
O mais improvável aconteceu na Serra, algo que não esperávamos, algo inédito, talvez. Mas nem esse cariz único tira a faceta real, concreta e verosímil ao livro. Apesar de improvável, vejo este enredo a acontecer na vida real.
Assim, posso dizer que foi um prazer ler este livro e que é, sem dúvida, uma excelente obra de estreia para a autora. À exceção da falta de revisão, pouco tenho a apontar. É realmente uma história interessante.