De volta ao desconhecido...
Em primeiro lugar, quero agradecer à editora Texto e Grafia pela gentileza de me cederem um exemplar de Allegro Ma Non Troppo, seguido de As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, de Carlo M. Cipolla.
Tenho de confessar que este não é o género de literatura a que estou acostumada. Já li vários livros do mesmo género, mas principalmente com o objetivo de obter informação para trabalhos académicos. Não posso dizer que não seja um estilo que me agrade. Gosto, mas não é habitual ler obras deste tipo.
Carlo Maria Cipolla, nascido em 1922, foi um historiador ilustre, tendo lecionado em grandes universidades. Tal como poderão perceber através da leitura de Allegro Ma Non Troppo, seguido de As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, Carlo Cipolla especializou-se na Idade Média, recebendo vários prémios.
Neste livro encontram-se dois ensaios. O primeiro intitula-se Allegro Ma Non Troppo, enquanto o segundo se chama As Leis Fundamentais da Estupidez Humana.
Em Allegro Ma Non Troppo deparamo-nos com uma breve síntese da história da Idade Média e os acontecimentos que levaram ao início do Renascimento. Toda esta história envolve a necessidade e o comércio da pimenta, bem como outros bens e matérias primas da época.
Com um caráter humorístico, Cipolla consegue fazer-nos aprender algumas noções acerca desse tempo, divertindo-nos em diversas fases da leitura.
A linguagem simples, apesar de cuidada, quase num tom coloquial, permite ao leitor desfrutar de uma leitura agradável e, ao mesmo tempo, conhecer um pouco da cultura europeia da idade média.
Por vezes, perdi-me um pouco nos nomes das personagens históricas que iam sendo referidas ao longo da obra, principalmente porque havia muitos indivíduos com o mesmo nome.
O caráter cómico deste ensaio é, sem dúvida o mais interessante. O autor, consegue, através desse humor desmascarar alguns dos atos que levaram à queda de nações no tempo referido. É impressionante como a história se transforma em algo deveras interessante através das suas palavras.
Deixo-vos uma das passagens que mais me divertiu:
(após uma crise económica)
"Os florentinos (...) largaram o comércio e a banca, e entregaram-se à cultura e à poesia. E assim teve início o renascimento (...)"
Fiquei um pouco surpreendida com a dicotomia entre os temas dos dois ensaios. O primeiro tem um caráter histórico, enquanto o segundo se debruça sobre a Estupidez Humana, mas suponho que sejam dois ensaios completamente distintos que foram editados no mesmo livro.
Em As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, encontramos, como o título indica, algumas leis fundamentais sobre a estupidez. No entanto, esta não é a estupidez a que estamos habituados. Trata-se de uma versão real, mas à qual não estamos familiarizados.
Estúpido é aquele que faz mal aos outros sem que isso lhe traga alguma vantagem. Nesta obra somos alertados para os perigos de um estúpido, uma vez que ele pode fazer tudo para nos prejudicar e nós nunca vamos estar à espera.
Através de uma linguagem simples, ilustrada com gráficos é-nos explicado uma espécie de modelo matemático que nos permite identificar um estúpido, um ingénuo, um bandido e um inteligente.
Além disso, esta obra deixou-me a compreender melhor o funcionamento das sociedades, em que o número de pessoas estúpidas permanece constante em cada setor. Voltando ao caráter cómico, deixo-vos uma das leis que me foi apresentada neste livro e que, sem dúvida, me divertiu pela sua veracidade e pelo ridículo da coisa:
"Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação."
Assim, posso dizer que esta leitura me surpreendeu pela positiva e me fez perceber que talvez devesse dar mais oportunidades a obras como estas, uma vez que não me têm desiludido.