Uma menina e vestígios de cinzas...
Talvez Teia de Cinzas seja o livro de Camilla Läckberg que mais evidenciou a crueldade humana. Sabendo que é ficção, não consigo deixar de ficar perplexa com os acontecimentos brutais que rondam a vila costeira de Fjällbacka.
Um homem simples, um pescador, dá com o corpo de uma criança no seu barco ao recolher os cestos de captura de lagostas que, anteriormente, lançara ao mar. Uma menina afogada, foi o que todos pensaram. Apenas um infeliz acidente quando brincava na praia, por exemplo. Nada, até aí, se revelara mais errado do que essa crença.
Um homem simples, um pescador, dá com o corpo de uma criança no seu barco ao recolher os cestos de captura de lagostas que, anteriormente, lançara ao mar. Uma menina afogada, foi o que todos pensaram. Apenas um infeliz acidente quando brincava na praia, por exemplo. Nada, até aí, se revelara mais errado do que essa crença.
A menina afogou-se, sim, mas não no mar, em água doce, contendo, ainda, vestígios de sabão. Água do banho, possivelmente. Ainda mais terrível: no estômago da menina foram encontradas cinzas. Cinzas com vestígios biológicos. Seriam humanos? Quem poderia ter feito tal coisa? Era isso que Patrick Hedström teria de descobrir.
Erica, num estado quase depressivo, lida com a sua recém nascida filha, Maja, tentando confortar a sua amiga, mãe da menina assassinada, Sara.
Sara era uma menina difícil, com um temperamento complicado, mas acima de tudo, uma criança amável, sem quaisquer inimigos em tão tenra idade para lhe fazerem tal coisa.
Ao mesmo tempo acompanhamos, iniciando-se em 1923, a história de Agnes, uma rapariga mimada, filha de um empresário abastado. Quando Agnes engravida de um trabalhador honesto, empregado do seu pai, este deserda-a e é obrigada a mudar-se para casa de Anders, o pai do seu filho. Aí percebe que os sentimentos que tinha por Anders não existiam realmente, apenas se sentiu atraída por ele por rebeldia, por capricho de uma menina rica.
À medida que a sua antiga vida fica para trás, Agnes torna-se cada vez mais amargurada. Cada vez odeia mais a sua vida e o seu marido, desleixando a educação dos filhos.
De novo, tudo muda quando um incêndio mata Anders e os meninos, deixando Agnes viúva. Esta embarca para a América após recusar a proposta do seu pai para voltar a casa, levando consigo uma caixa com cinzas do que restou da sua casa, do seu marido e dos seus filhos.
Depois de algum tempo "do lado de lá", Agnes decide voltar a Gotemburgo, encontrando uma menina na viagem de volta e raptando-a. Fingiu que aquela era a sua filha e cria-a como sua, educando-a com "humildade", que era como ela chamava às colheradas de cinzas que obrigava a menina a comer.
Camilla Läckberg volta a deslumbrar-nos com um enredo absolutamente inesperado. Teias de cinza, uma obra escrita com uma fluidez incrível, lê-se muito facilmente. Talvez seja fácil demais, não que isso seja um ponto negativo, mas quem é cativado pela história devora o livro num instante.
Esta autora é incrivelmente capaz de retratar sentimentos de uma forma realista. Praticamente consigo sentir o ódio de uma avó pela neta e, acima de tudo, o ódio de Agnes pelo marido. Esse ódio é avassalador, consumindo, quase completamente, o seu ser.
Sinceramente, o que mais me chocou foi a crueldade contida numa só pessoa, capaz de envenenar lentamente o seu companheiro, tratando dele como se de de uma doença se tratasse.
Dito isto, não penso ser este o último livro de Camilla Läckberg que vou ler. Apesar de as obras andarem à volta das mesmas personagens e de, no princípio de cada obra pensar: "Lá vamos nós, depois dos últimos volumes não pode haver grandes novidades, já tudo foi revelado!", nada disso é verdade. A autora consegue deslumbrar-me a cada palavra, deixando sempre uma dúvida recorrente, que desaparece no final.