domingo, 12 de março de 2017

A Princesa de Gelo

Um mistério a desvendar...


Primeiramente, sinto-me compelida a afirmar que a expressão "a nova Agatha Christie que vem do frio” é bem fundamentada. Apesar da minha viagem pelo universo de Camilla Läckberg ser ainda reduzida e não ter começado no sitio certo (a primeira obra que li foi Teia de Cinzas, o terceiro volume da saga vulgarmente designada por “Fjällbacka series”), cada livro agarrou a minha atenção do princípio ao fim, despertando em mim uma curiosidade insaciável.

De volta ao essencial, A princesa de Gelo, o primeiro volume de uma coleção que anseio ler, foi uma agradável surpresa. Tendo em conta a sinopse presente na badana inicial, não esperava um enredo tão atribulado e recheado de um suspense, que não aborrece, mas desperta. Ora vejamos:

“De regresso à cidadezinha onde nasceu depois da morte dos pais, a escritora Erica Falk encontra uma comunidade à beira da tragédia. A morte da sua amiga de infância, Alex, é só o princípio do que está para vir. Com os pulsos cortados e o corpo mergulhado na água congelada da banheira, tudo leva a crer que Alex se suicidou.

Quando começa a escrever uma evocação da carismática Alex, Erica, que não a via desde a infância, vê-se de repente no centro dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, Patrik Hedström, que investiga o caso, começa a perceber que as coisas nem sempre são o que parecem. Mas só quando ambos começam a trabalhar juntos é que vem ao de cima a verdade sobre aquela cidadezinha com um passado profundamente perturbador…”

Esta sinopse remete, na minha opinião, para um ambiente estagnado em que a personagem principal, Alex, já não está presente para espalhar o seu carisma. No entanto, não é esse o caso: encontrei um enredo simplesmente fantástico, repleto de mistério e movimento.

No que toca à relação entre Erica Falk e Patrik Hedström fica a ideia de uma parceria momentânea e estritamente profissional, o que na realidade não é verdade. Erica e Patrik envolvem-se de tal modo na investigação e um com o outro que, apesar de, em parte, trabalharem em conjunto, há muito que não partilham. 

Deixo-vos agora uma pequena síntese da minha autoria. Espero que vos cative ainda mais a ler a obra. Não contém spoilers, por isso não se preocupem: é seguro e não vos vai estragar a leitura.

Erica Falk regressa a Fjällbacka, a sua cidade natal, envolta numa teia de problemas: a morte dos seus pais e Lucas, o marido abusivo da sua irmã, Anna, que pretende vender a casa onde elas cresceram. Quando pensava que as coisas não podiam ficar piores, Erica é abordada por um homem em pânico que a guia até ao corpo da sua amiga de infância, Alex, a Princesa de Gelo, que possivelmente se terá suicidado.

A protagonista envolve-se no drama familiar de Alex ao mesmo tempo que dirige uma investigação não oficial e tenta escrever um panegírico a pedido dos pais da falecida. Nessa investigação encontra Patrick, um polícia e velho amigo de quem se afastou há muito tempo, e envolvem-se, tanto intimamente, como na procura do homicida de Alex. 

Mais não vos posso dizer acerca do desfecho desta história, além de que é totalmente inesperado e avassalador.

A palavra que encontro para descrever este romance policial é CATIVANTE. A autora tem uma capacidade extraordinária de progredir com a ação sem revelar ao leitor o desenrolar dos factos na cabeça das personagens, deixando-o sedento de respostas. Existem momentos no decorrer da ação em que um conjunto de perguntas sem resposta é desvendado de uma só vez, deixando-nos perplexos.

É uma obra de leitura fácil e rápida, com uma escrita muito simples e acessível a todos, o que, para alguns é ótimo porque conseguem chegar às respostas muito depressa se esse for o seu desejo. No entanto, na minha opinião, preferia que o livro fosse um pouco mais pesado, no sentido em que queria agarrar-me às duvidas e às personagens durante mais algum tempo. Queria que andasse mais devagar, por assim dizer, para desfrutar do desenrolar de acontecimentos essenciais à obra sem que me fossem todos “despejados” de uma só vez. Por vezes gostaria que Camilla Läckberg fosse dando algumas pistas subtis para o leitor se ir preparando para o choque final e, depois, sim, subir o pano e revelar toda a verdade.

Um outro ponto positivo são as descrições verosímeis, mas não aborrecidas, que me fazem desejar estar numa praia de Fjällbacka ou a beber chá na varanda de uma casa com vista para o mar enquanto vejo a neve a cair. Esse cenário deveria retirar movimento à obra, tornando-a mais estagnada e pacifica, mas não o faz. A autora cria um contraste entre a paz do ambiente e a tormenta de algumas personagens tornando este livro numa obra completamente irresistível para um amante de um bom mistério.

Com uma capa sugestiva, A princesa de Gelo, revela-nos o melhor e o pior da humanidade, mostrando que onde há mal, existe bem para o remendar. Termino, assim, a minha primeira opinião dizendo que este livro me tornou numa quimera mais fria e, ao mesmo tempo, mais humana.